José Gercione, 47 anos, Agente de Trânsito desde 1998, quando ainda era ETTUSA e entrou na primeira turma da AMC em 2000.
Todos os dias pessoas comuns nos mostram que é possível superar os desafios. Com perseverança, disciplina e apoio da família e dos Amigos, o agente de trânsito da AMC José Gercione participou da ultima Edição do Iron Man Fortaleza, em outubro de 2015. Um mês antes da prova, Gercione sofreu um acidente de moto no qual perdeu uma parte do dedo médio da mão esquerda. Médicos disseram que ele não conseguiria nadar no mar, uma das principais modalidades do Iron Man. Além do ferimento na mão que não estava cicatrizado, também atentava contra o Agente a pressão sanguínea que na hora da prova sobrecarrega as extremidades do corpo.
Gercione não ouviu os médicos, participar da competição que testa todos os limites do corpo era um sonho e ele não pensava em desistir. Assim que pode voltou a treinar. Durante a prova se destacou entre os atletas de sua categoria. De lição, ele afirma ficar a presença da prática esportiva na vida de sua família e amigos, pois está motivando os sedentários para que mudem de vida e conheçam benefícios do triatletlismo.
Sindifort: Você é tri atleta desde quando?
Gercione: Tri atleta há um ano. Ano passado trabalhei como agente de trânsito no Iron Man e me apaixonei. Eu era atleta só de corrida. Mas após a experiência comecei a treinar para o Iron.
Sindifort: Você pode explicar em poucas palavras o que é o Iron Man?
Gercione: O Iron é o chamado homem de ferro. É um desafio de 3.8km de natação, 180.2km de bike mais 42.2 de corrida. É um desafio que no mundo, poucas pessoas se aventuram a fazer.
Sindifort: Você disse que há um ano tomou a decisão de competir no Iron Man, mas quando você iniciou a preparação?
Gercione: Dia 15 de dezembro. Lembro como se fosse hoje eu comecei os treinos com a assessoria do Diogo Porto. Eu participo de uma assessoria onde ele é triatleta de triatletas. Tem sua planilha semanal de treinos, onde você se organiza até ter condições de participar de uma prova dessas.
Sindifort: E leva quanto tempo para ter condições para uma prova dessas?
Gercione: O condicionamento é o ano todo, a gente trabalha de segunda a segunda, não tem folga. Pra gente que é triatleta, mas não é profissional, tem que conciliar família, trabalho e os treinos. Aí além dos treinos específicos de corrida, pedal e natação, ainda tem a musculação, alimentação e fisioterapia, requer muito tempo. Por isso esse ano eu tive muito ausente com a família, foi um pedido, que eu tinha um sonho a se realizar, que era participar desse Iron e tive muito apoio das minhas duas filhas e da minha esposa.
Sindifort: Como é sua rotina de treinamento?
Gercione: Minha rotina de treinamento era trabalho pela manhã de 6h ao meio dia, a tarde ia treinar. Normalmente treino de natação à tarde, 16h entrava no mar. Uma a uma hora e meia no mar. Na terça feira, trabalho de manhã, a tarde, fazia pedal e às vezes a noite uma corrida leve. Na quarta era corrida. Trabalho pela manhã e corrida à tarde. Quinta feira tinha trabalho pela manhã e pedal à tarde, nós tínhamos as terças e quintas o pedal e na Sexta pela manhã eu a maioria das vezes tava compensando na AMC e fazia com um grupo a natação no mar. Só natação e as vezes um duatlo à tarde. E nesses dias ainda fazia de 12h as 13h, as terças e quintas, natação lá no circulo militar que eu fazia para aperfeiçoar. E no final de semana era sempre no sábado pedal, se não duatlo. No pedal começava os longões, que era o treino longo, que era corrida e pedal, corrida de 80 km, 100 km, 120 km. Sempre o professor ia aumentando a quantidade de quilômetros, isso no sábado e no domingo (“eita”).
Sindifort: Você sofreu um acidente de moto. Quando e como foi o acidente? O quê passou pela sua cabeça?
Gercione: 03 de outubro de 2015. Faltando um mês e cinco dias para o Iron, para a prova. Foi um dia de treino, um dia de sábado. Eu tinha feito três entradas no mar de 2.000 m, um treino forte de natação. Cheguei em casa, ia trabalhar no turno da tarde, a minha esposa pediu para ir buscá-la em um shopping perto de casa, ai eu subi na moto e fui pegá-la naquela de quem ia trabalhar, já 11h da manhã, eu entrava 12h na AMC e ocorreu. A sensação no momento foi de desespero porque quando eu caí, já caí sem essa parte do meu dedo (ponta do dedo médio da mão direita). E eu fui logo olhando minha perna, pois já tenho outra cirurgia de outro acidente de moto lá na AMC. Um acidente que precisei colocar duas placas na perna direita, daí quando eu caí de moto nesse ultimo acidente, a primeira coisa foi olhar logo minha perna pra vê se não tinha quebrado, pois ai teria que ficar muito tempo parado. Pois fiquei sete meses parado desse primeiro acidente. Mas graças a Deus não quebrou, ficaram só uns hematomas, algumas cicatrizes, a perna muito inchada por causa do sangue coagulado e ferimentos leves, mas graças a Deus não quebrou, que era o meu maior medo. Tive que cortar uma parte do dedo, amputar. Fui logo socorrido e parti para a recuperação.
Sindifort: Como foi o acidente?
Gercione: Eu vinha na rua, quando o cara avançou a preferencial, Ele não sofreu nada e foi embora sem prestar socorro. Quando eu caí, já tava com um pedaço do dedo dilacerado. Perdi muito sangue e mesmo assim tive que fazer as ligações pedindo socorro a minha esposa, AMC e SAMU, que chegaram muito rápido.
Sindifort: O que os médicos diziam sobre suas condições de fazer a prova?
Gercione: Ah o doutor Quintino, que fez minha cirurgia, me disse que não teria como fazer a prova, principalmente por conta da lesão no dedo, que poderia se contaminar na água do mar. Por ele eu não teria participado da competição.
Sindifort: Qual foi a sua maior dificuldade durante a prova?
Gercione: Com certeza a natação. A natação já era o meu ponto fraco, pois pratico há pouco tempo. Com o acidente tive que passar muito tempo sem entrar no mar e não pude evoluir. A pele da cicatrização está muito sensível, ainda doía muito, além disso, choveu um pouco na hora da natação e isso atrapalha a visibilidade. Fiz num tempo a cima do que vinha fazendo antes do acidente. Outra dificuldade foi a falta de equipamentos de apoio, como GPS, relógio que marca nosso ritmo, uma bicicleta mais moderna. O triatletismo é um esporte caro. Tive que fazer tudo do meu bolso. Minha bicicleta vale uns R$ 10 mil, os atletas de ponta usam uma bicicleta que custa uns R$ 70 mil. Só uma roda de ponta custa R$ 12 mil, mais que a minha bicicleta. Tudo isso dificulta em uma prova longa como o Iron Man.
Sindifort: Em algum momento da prova você pensou em desistir?
Gercione: Não, em nenhum momento. O Iron de Fortaleza é um dos mais difíceis do circuito mundial por conta do clima quente e ainda teve um vento muito forte no trajeto de volta da bicicleta. Mas sempre tive na cabeça que iria terminar a prova.
Sindifort: Como você se preparou mentalmente?
Gercione: Cada prova tem seu segredo, no Iron é muito específico em cada um. As dificuldades, é como diz meu treinador: “Não vá pensar que o cara que está do seu lado não está sofrendo. Ele tá tanto ou mais do que você.” Nós somos seres humanos e todos sentimos cansaço. Você tá ali cansado e tem que cumprir sua prova. Você tem que trabalhar 50% a parte física e 50% a psicológica. A cada momento vem aquele pensamento de desistir, pode ser na natação, ou no pedal, na corrida, mas para mim não tinha essa opção, eu vou terminar de qualquer maneira eu vou terminar, era assim que eu pensava.
Sindifort: Em quanto tempo você terminou a prova? E que horas era quando terminou?
Gercione: Terminei em 13h47m, era 19h30m mais ou menos. Tive uma natação de 1h53m, no pedal foram 6h20m e quase 5h de corrida.
Sindifort: Quando terminou a prova, como você se sentiu? Como estava fisicamente?
Gercione: Terminei inteiro. Eu tava muito emocionado, mas cheguei inteiro, porque após uma prova dessa existem lá muitos massagistas e tudo como se fosse um hospital. Um hospital daqueles que você chega assim e pensa que está numa guerra. Muita gente tomando soro, medicação, porque é desgastante, você passar mais de 12 h fazendo ritmo muito acelerado, sem alimentação, só tomando carboidrato, é muito difícil, ai você chega ao final. Mas graças a deus cheguei inteiro, fiz só uma pequena massagem nas coxas, por causa das câimbras que tava tendo, mas cheguei inteiro.
Sindifort: E depois de ter passado por tudo isso o que foi que você pensou?
Gercione: Que tudo aquilo compensou, treino, dificuldade, por que a sensação é indescritível, compensa, não tem explicação, acho que só quem faz mesmo é que tem como…(Emocionado).
Sindifort: Você se sentiu um homem de ferro?
Gercione: Rs. Eu me senti um homem de ferro. Isso é uma sensação para poucos, porque uma prova dessa não é só o dia. O que você ganha nessa prova é aquele ano de treinamento. Não é só o dia da prova. O dia da prova você vai se divertir com aquilo que treinou. Se você não treina, você não termina. Assim o homem de ferro é aquele que foi o ano todo. Foram os treinamentos, foi o abdicar de tomar sua cerveja, do tempo com a família, de muitas coisas que gosta de fazer para treinar. A prova é só um dia, mas se você não treina, você não faz. O homem de ferro é aquele que você foi o ano todo.
Sindifort: Após o acidente você se revoltou com o outro motorista.
Gercione: Jamais, até hoje nem procurei em nenhum momento ainda. O foco era tão grande na prova. Algumas pessoas foram lá em casa e diziam, “não cara, no próximo ano tem de novo”, e eu dizia “no próximo ano nem sei, mais um ano de treinamento sabe…” (emocionado).
Sindifort: Você acha que para ser agente de trânsito também tem que ser um homem de ferro?
Gercione: de certa forma, sim. Já fui vitima de trânsito duas vezes, a primeira foi acidente de trabalho. Falar da AMC é fácil. Hoje a dificuldade tá enorme, você tem que ser mais que um homem de ferro. Hoje ninguém gosta da gente, nós ali da AMC, as únicas pessoas que gostam da gente é a família. Você pode perguntar a qualquer condutor, que ninguém gosta da gente. A gente tem que ser psicólogo, a gente tem que ser juiz, a gente tem que ser tudo ali dentro da AMC e agora tá um caos total.
Sindifort: Você teve algum apoio?
Gercione: Apoio o ano todo nenhum, apoio mesmo só eu bancando tudo com minhas condições financeiras. Tive só no final a inscrição no Iron, que é caro. Para mim é caro. Tive apoio de um ex-presidente da AMC, o Vitor Ciasca, através da secretaria de turismo. Da AMC em si, nenhum.
Sindifort: Quando você sofreu o acidente, você sentiu apoio da instituição?
Da AMC não, mas dos agentes sim. Muito apoio na hora do atendimento, mesmo no hospital os colegas estavam do meu lado. A categoria para mim foi muito importante no momento.
Sindifort: Por terminar a prova você recebeu uma camisa que mostra os percursos, 3,8km de natação, 180,2 de bicicleta e 42,2 de corrida e a medalha que diz que você é o Homem de Ferro. Essa medalha vai pra onde na sua casa?
Gercione: Há, essa vai pra moldura. Já tenho uma de um meio Iron em Maceió, mas não é o iron (risos). Hoje eu posso dizer que sou o homem de ferro.
Sindifort: Não foi só essa prova que te fez um homem de ferro, mas a vida correto?
Gercione: Sim a vida. Como disse a prova é só um dia, para concluir tem todo treinamento mental e físico. Muitos começam e poucos conseguem terminar, primeiro o treinamento e você não treina pelo desafio de ganhar um milhão de reais o desafio é superar a se mesmo é melhorar a sua qualidade de vida e saúde. Antigamente eu vivia cansado, dor nas costas dor em tudo. Hoje eu tenho 47 anos e fui fazer exames e os resultados foram de um jovem de 19 anos, 20 anos. É isso que temos que buscar saúde, pois quando passamos dos 40 anos nosso metabolismo não é mais o de um garoto. Eu era obeso. Perdi 18 kg.
Sindifort: E essa energia tá contagiando a família?
Gercione: Com certeza, hoje a família toda participa, irmãos e estou sendo exemplo, lá na AMC que quando eu comecei muitos agentes estão hoje no esporte. Já tem vários me perguntando como faz para começar, comprar bicicleta, seguindo o exemplo, dizendo que tá no sedentarismo, tá obeso. Graças a Deus lá em casa todos participam, minha esposa, filhas já correm.
Sindifort: Parabéns e Obrigada Gercione!
Com este exemplo de superação desejamos Feliz Natal e Boas festas a todos. Sempre na luta com os servidores e empregados públicos do município de Fortaleza, não cansamos de plantar e recomeçar. Que em 2016 possamos colher juntos muita esperança e novas conquistas!